Porque Energia Solar Deve Ser Considerada um Investimento Financeiro



Quando se fala em investimento financeiro, as ideias mais comuns geralmente envolvem ações, imóveis ou algum tipo de aplicação bancária. Em resumo, operações que gerem retorno por meio de juros ou na venda por um valor maior do que o de aquisição. Mas deixar de gastar dinheiro também é uma forma de investimento. E nesse sentido, com o crescimento das tarifas de energia elétrica, os geradores fotovoltaicos vêm ganhando destaque como uma opção bastante vantajosa. Meu objetivo aqui não é trabalhar com taxas de retorno ou margens de lucro, até porque elas variam muito de projeto para projeto, e sim apresentar o contexto pelo qual é possível obter retorno financeiro com sistemas de energia solar.


Energia elétrica cada vez mais cara

O ano de 2015 certamente foi marcante com relação à elevação das tarifas de energia elétrica. Com um aumento médio de 39%, o reajuste pesou no bolso e intensificou as discussões sobre economia energética. A elevação dos valores, no entanto, não é um fato recente, como pode ser visto no gráfico abaixo, elaborado com base nos dados do Sistema de Apoio à Decisão (SAD) da ANEEL (acessível nesse link). Apesar de algumas eventuais reduções, a tendência geral se manteve crescente. E deve permanecer assim por mais alguns anos.
Não chega a ser uma surpresa afirmar que a demanda de energia brasileira está crescendo. Conforme a nota técnica “Projeção da demanda de energia elétrica” para os anos de 2016 a 2025 (EPE, 2016) espera-se um aumento médio de 3,8% ao ano. A tabela no final do parágrafo ilustra os valores esperados por cada setor. Dentre os fatores envolvidos nesse crescimento estão a expansão demográfica e a gradual substituição de outras fontes de energia, especialmente os combustíveis fósseis, pela eletricidade. Essa projeção é, inclusive, mais baixa do que em anos passados, graças a maior preocupação com eficiência energética e incremento da geração própria por parte dos consumidores. A geração de energia nacional, no entanto, apresenta dificuldades em acompanhar a demanda. A produção hidrelétrica, que é a base da matriz elétrica nacional vem sendo prejudicada pela chamada “crise hídrica”, com a queda acentuada do nível dos reservatórios. A lacuna resultante é preenchida com a maior frequência de acionamento das usinas termelétricas, que possuem um custo de produção consideravelmente mais elevado. 

 
A expansão da matriz hidrelétrica, que atualmente é o método mais barato de geração, é complicada pelo fato de que a maior parte dos potenciais não explorados se encontra em áreas de grandes restrições ambientais. A adoção das chamadas “usinas a fio d’água”, que não possuem reservatórios ou as suas proporções são reduzidas, tem sido uma alternativa para contornar essas restrições. Essa estratégia, no entanto, resulta em capacidades de produção menores e uma dependência ainda maior do volume de água nos rios. A alternativa tem sido expandir o investimento em energias renováveis. O destaque fica para a energia eólica, que, estima-se, deve atingir na próxima década uma participação de 11% na produção total de energia elétrica. O aumento da capacidade de produção deve equilibrar a relação com a demanda e reduzir o crescimento do valor das tarifas, mas não interromper completamente. Os custos da energia eólica, assim como de outras fontes renováveis, ainda que muito mais baratos que aquela proveniente de usinas termelétricas, é mais cara do que a produção hidrelétrica. E existem ainda todos os custos para a realização desses novos empreendimentos, que inevitavelmente serão repassados, mesmo que parcialmente, ao consumidor.


Legislação favorável à geração fotovoltaica

Em sintonia com a necessidade de expandir a produção e reduzir custos, a legislação brasileira vem se adaptando para favorecer a produção de energia elétrica em pequena escala. E aqui é preciso fazer um pequeno parêntese para comentar sobre o conceito de geração distribuída. De maneira resumida, consiste em aproximar o processo de produção de energia dos pontos de consumo, através de pequenos geradores de propriedade particular, conectados entre si e com os consumidores por meio da rede de distribuição elétrica. É importante ressaltar que, embora esse artigo esteja focado nos sistemas fotovoltaicos, o conceito de geração distribuída abrange qualquer forma de produção de energia, com destaque para as fontes renováveis.

A conexão com a rede de distribuição permite flexibilizar e simplificar o sistema de geração, reduzindo seu custo de aquisição. Em um sistema fotovoltaico isolado o projeto deve incluir alguma forma de armazenamento de energia, em geral baterias, com o objetivo de manter a alimentação para as cargas nos horários em que o gerador não está operando (por exemplo, à noite). O gerador também precisa ser sobredimensionado de forma que, no período em que a luz solar esteja disponível, produza o suficiente para suprir a demanda e também carregar as baterias. Por outro lado, em um sistema conectado a rede de distribuição, o gerador pode possuir qualquer porte e não necessita de sistemas de armazenamento, já que qualquer demanda excedente será atendida pela energia fornecida pela rede elétrica externa.


A geração distribuída no Brasil é regulada pela Resolução Normativa nº 482/2012 da ANEEL, o que a torna, provavelmente, o principal elemento que viabiliza o caráter de investimento da energia solar. Além de permitir a conexão de pequenos produtores à rede de distribuição, essa resolução também estabelece o Sistema de Compensação de Energia Elétrica, que requer a substituição do medidor convencional por um bidirecional. Sem entrar em muitos detalhes, a compensação funciona da seguinte forma: quando o consumo da edificação for maior que a quantidade de energia produzida pelo gerador fotovoltaico, esse consumo será registrado da forma com a qual estamos acostumados. Quando a produção for maior, o excedente será fornecido para a rede de distribuição e o medidor irá “girar ao contrário”, ou seja, irá abater o valor desse excedente do consumo previamente registrado. Nos meses em que o saldo total da geração for positivo, ou seja, a produção foi maior do que o consumo, serão gerados os chamados créditos de energia. Esses créditos permanecem acumulados e são usados para abater o valor do consumo nos meses seguintes nos quais o saldo de produção seja negativo. Para quem quiser conhecer mais detalhes sobre esse sistema de compensação, sugiro a leitura deste caderno temático da ANEEL.

Em 2015 a REN 482 foi modificada (por meio da Resolução Normativa nº 687), tornando-se ainda mais favorável. Foi criada, por exemplo, a possibilidade de compartilhamento de um sistema de geração, distribuindo os créditos gerados de maneira semelhante à distribuição de ações em uma empresa. Outra iniciativa governamental importante é o Convênio ICMS 16, do CONFAZ, contando atualmente com a participação de 20 estados brasileiros. Os estados participantes não cobram o ICMS sobre a parcela de energia injetada na rede. O resultado prático é que a energia resultante de produção própria tem o mesmo valor daquela fornecida pela distribuidora. Além dessas, existem diversas iniciativas a nível estadual e federal de incentivo a fontes alternativas de energia, tornando a legislação brasileira uma das mais favoráveis no mundo à geração distribuída.


Custos de aquisição atraentes

Passando para a questão dos custos de aquisição de um gerador fotovoltaico, estes têm caído bastante com o aumento da demanda mundial. Naturalmente ainda não é possível considerar essa fonte de energia como barata, mas o investimento já é bastante acessível. Em termos de valores atuais, estes são de aproximadamente R$ 6,00 por Watt de pico para geradores residenciais. Para projetos de maior porte esses custos tendem a ser menores. Trazendo para um exemplo mais prático, podemos considerar um sistema de energia solar destinado a suprir integralmente a demanda de uma residência com consumo médio mensal de 300kWh. Esse sistema seria conectado a rede da distribuidora, não possuindo armazenamento em baterias. Nessas condições, o valor seria algo em torno de R$ 15.000,00. É importante salientar que isso se trata de uma estimativa, e que as despesas efetivas dependem das características particulares de cada projeto. Mas já é possível visualizar que são menores do que geralmente se imagina.


A vida útil de um gerador de energia solar fotovoltaica é estimada em 25 anos. Na verdade, alguns componentes do sistema, como é o caso dos painéis, podem ter uma durabilidade bem maior, próxima de 40 anos. E as despesas de manutenção durante esse período são bastante reduzidas. Se o projeto for bem executado, danos aos componentes serão raros, e as intervenções se limitarão à limpeza dos painéis, revisões e substituição de fusíveis e DPS. A previsão é de que os gastos anuais com manutenção correspondam a 1% do valor de aquisição do gerador. Retornando ao exemplo do parágrafo anterior, seriam aproximadamente R$ 150,00 ao ano.

A maioria dos bancos já possui linhas de crédito específicas para projetos de geração própria, com prazos de 60 a 120 meses e juros na faixa de 1,5 a 2% ao mês. Nesses casos em geral é possível quitar a maior parte do valor das parcelas do financiamento apenas com o correspondente economizado na fatura de energia. Considerando a relação entre os custos de aquisição e manutenção apresentados e os valores crescentes das tarifas de energia elétrica, se obtém um tempo de retorno entre 7 e 10 anos. Algumas simulações apontam inclusive prazos de 5 anos para casos específicos. Esse tempo de retorno também inclui a depreciação do sistema, ou seja, a necessidade de sua substituição ou reforma ao final do período de 25 anos. Ou seja, são pelo menos 15 anos de lucro pela produção da própria energia.  


Conclusão

Até pouco tempo atrás a energia solar fotovoltaica era considerada cara. Com elevados custos de aquisição do sistema, o tempo de retorno do valor gasto se aproximava da vida útil da tecnologia, inviabilizando a maioria de suas aplicações. Atualmente essa já não é mais a realidade. Com o crescimento da demanda mundial, os preços dos equipamentos caíram bastante. Juntamente com a regulamentação geração distribuída e os constantes aumentos nas tarifas de energia elétrica, a geração fotovoltaica não apenas se tornou viável, como também é uma ótima opção de investimento.



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