A execução de um empreendimento imobiliário, seja uma residência, um prédio comercial ou um pavilhão industrial, não é barata. O que é natural se for considerado o número de profissionais envolvidos e a complexidade do processo. Como são poucas as pessoas que podem arcar confortavelmente com os custos de uma construção, a opção geralmente é por simplificar o projeto e a sua execução. E isso não é diferente com as instalações elétricas.
Essa simplificação não é, por si só, errada. Se forem tomados os devidos cuidados, é possível economizar abrindo mão de um pouco de conforto, mas não da qualidade. O problema é quando esses cuidados não são levados em conta. É o caso, por exemplo, de optar por uma mão de obra menos qualificada por ser a mais barata. Ou subdimensionar circuitos. Ou então descartar proteções como aterramento por parecerem desnecessárias. Mesmo quando essa conduta não chega a comprometer a segurança dos usuários, instalações elétricas mal projetadas e mal executadas geram transtornos e despesas que frequentemente não compensam a economia obtida.
Incômodos desnecessários
É relativamente comum encontrar pequenos transtornos ou problemas no funcionamento elétrico de uma edificação. Por desconhecimento, muitas vezes esses problemas são tidos como naturais por parte dos usuários. Na verdade eles são resultado de falhas no projeto ou na execução das obras. Um bom exemplo é quando, em uma residência, o uso do chuveiro elétrico afeta a iluminação ou atrapalha o uso de outros aparelhos de maior consumo. Certamente não é aceitável precisar programar os horários de banho para não coincidir com o uso de eletrodomésticos como forno elétrico ou aspirador de pó.
Esse tipo de incomodo é resultado de mau dimensionamento, seja do cabeamento de entrada da residência ou dos circuitos elétricos internos. Também associado ao mau dimensionamento esta o desarme frequente dos disjuntores. Como “solução”, alguns instaladores ou mesmo o proprietário optam por utilizar disjuntores superdimensionados, julgando como vantagem o mesmo permanecer sempre armado. Passa, nesse caso, a funcionar apenas como uma chave geral, perdendo completamente sua função de proteção do sistema.
Mais perigosos, mas igualmente corriqueiros, são os choques elétricos provocados por eletrodomésticos ou outros aparelhos. Geralmente ocorrem ao contato com alguma parte metálica exposta do equipamento e são provocados pela ausência de um circuito de aterramento adequado. Descartar o aterramento significa deixar os usuários completamente desprotegidos caso ocorra o contato de um condutor carregado com a parte metálica tocada (por exemplo, devido a um cabo quebrado). Definitivamente não é algo que deva ser encarado com naturalidade.
Desperdício de energia
Subdimensionar circuitos elétricos não significa apenas transtorno, mas também um aumento no consumo de energia da edificação. Não basta seguir a tabela de corrente máxima suportada pelos cabos. É preciso considerar as distâncias e as cargas envolvidas. A resistência elétrica de um condutor é diretamente proporcional ao seu comprimento e inversamente proporcional a sua bitola. Ou seja, abrir mãos dos cálculos e optar por cabos mais finos do que seria necessário significa que eles irão dissipar uma parcela importante da potência do circuito. Essa energia, que deveria ser utilizada pelos equipamentos, não possui nenhuma outra aplicação além de aquecer o cabeamento.
Circuitos elétricos sobrecarregados também podem provocar o aumento do consumo dos aparelhos a eles conectados. É o caso dos motores de indução, encontrados em geladeiras e máquinas de lavar. Esses equipamentos requerem uma corrente elevada de partida, que vai reduzindo à medida que a velocidade do motor aumenta, até atingir o equilíbrio na sua velocidade normal de operação. Esse ponto só pode ser atingido se o motor for alimentado na sua tensão nominal. Como a tensão disponível para as cargas em circuitos sobrecarregados tende a cair, o motor pode nunca atingir sua velocidade ideal de rotação, o que significa que ele irá, durante toda a sua operação, consumir mais energia do que o necessário sem ser capaz de produzir o mesmo trabalho. No caso de máquinas que operam regulando alguma grandeza, como aquecedores e refrigeradores (temperatura) e bombas hidráulicas (volume ou nível de água), a menor disponibilidade de energia também significa um tempo maior de operação. A lógica nesse caso é simples, afinal sem energia suficiente, elas não serão capazes de realizar suas tarefas de forma eficiente.
Outra fonte de desperdício está na realização dos serviços, com emendas mal feitas, conexões precárias e isolamento danificado. Esse último é especialmente problemático em tubulações passíveis de acumular umidade ou em contato com estruturas metálicas, provocando fugas em direção a terra. Todos esses pontos inevitavelmente serão percebidos na fatura de energia elétrica. Em pouco tempo os gastos irão superar, e muito, qualquer possível economia que se tenha obtida em uma seleção inadequada de mão de obra e materiais.
Redução da vida útil das instalações e dos equipamentos
Os problemas mencionados anteriormente, tanto no dimensionamento do sistema quanto na execução dos serviços, acabam reduzindo a vida útil dos elementos do sistema. Emendas ou conexões ruins superaquecem e podem provocar centelhamentos, se rompendo com o tempo e danificando outros elementos ao redor. O mesmo ocorre com tomadas e outros componentes montados de forma errada ou com capacidade menor do que a exigida pelos equipamentos neles conectados. Na parte dos cabos, o superaquecimento provocado pelo dimensionamento incorreto deteriora sua capa isolante. Na melhor das hipóteses, esses pontos farão com que seja necessária uma substituição precoce dos elementos da instalação. Na pior, pode provocar incêndios, choques elétricos e queimaduras. E não são raros os relatos de acidentes desse tipo.
Uma instalação elétrica de má qualidade também reduz a vida útil dos equipamentos por ela alimentados. Motores elétricos, obrigados a trabalhar por períodos mais longos conduzindo correntes superiores às nominais, superaquecem, danificando o isolamento de suas bobinas. Equipamentos eletrônicos também são bastante vulneráveis, especialmente com relação à ausência de proteções. Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS) são uma maneira bastante eficiente de evitar danos por raios ou picos de tensão na rede elétrica. Um bom aterramento também elimina muitos problemas de funcionamento em equipamentos mais delicados. Naturalmente que esses cuidados exigem um investimento maior, mas é fácil perceber o quanto mais caro pode custar ignorá-los.
Considerando os riscos envolvidos, é importante que as instalações elétricas de uma edificação sejam pensadas priorizando sempre a segurança, e não o custo. Isso vale não apenas para a seleção dos materiais, como também seleção dos profissionais, tanto nas etapas de projeto quanto execução. Pessoas devidamente capacitadas e responsáveis serão capazes de orientar sobre o que é um gasto supérfluo e sobre aquilo que é absolutamente necessário. Do contrário, qualquer economia obtida será perdida em um curto espaço de tempo. E, com sorte, esse será o único problema.
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