5 Situações Nas Quais o ZigBee Pode Ser a Solução Dos Seus Problemas



Apesar de já possuir mais de uma década de existência, a tecnologia ZigBee ainda é relativamente pouco conhecida. Trata-se de um protocolo de comunicação wireless destinado a aplicações com baixa taxa de dados, mais especificamente na construção de redes de sensores e atuadores. Seu desenvolvimento se deu com foco na automação predial, mas graças a sua robustez e flexibilidade, tem encontrado espaço também em outros tipos de sistemas automatizados. No artigo O que é ZigBee eu apresento mais detalhes sobre as características técnicas e funcionamento desse padrão. Neste artigo irei me concentrar na parte prática, discutindo algumas situações nas quais o uso de ZigBee pode ser a solução mais econômica e eficiente.


1 – Quando os equipamentos necessitam ter baixo consumo de energia

O baixo consumo de energia é uma das características básicas da tecnologia Zigbee, o que o torna ideal para aplicações em que essa seja uma variável crítica. Diversas estratégias são adotadas para a obtenção dessa característica, tanto em nível de hardware quanto na lógica de operação do protocolo. A principal delas tira proveito da baixa taxa de dados, permitindo que os dispositivos permaneçam poucos milissegundos ativos e o restante do tempo, que pode ser de alguns segundos até horas, conforme a aplicação, em modo de baixo consumo de energia. Não são todos os dispositivos de uma rede ZigBee que podem operar dessa forma, mas apenas aqueles com funções mais simples, os chamados terminais. Equipamentos que possuam funções de roteamento (controlador e roteadores) não podem entrar em modo de baixo consumo de energia pela necessidade de manter sempre ativas as rotas de comunicação na rede. Ainda assim seu consumo é muito mais baixo em comparação com outras tecnologias wireless de curto alcance, como WiFi e Bluetooth.

Dispositivos ZigBee não precisam de circuitos elétricos especiais para a sua instalação. Como seu consumo é pequeno, eles podem ser conectados a praticamente qualquer ponto de energia próximo, sem preocupação com a sobrecarga desses circuitos. No caso dos dispositivos terminais, também é possível alimentar a maioria exclusivamente por meio de baterias. Conforme a aplicação, é possível que o tempo de duração da carga das baterias chegue a alguns anos. Alguns exemplos de aparelhos com essas características são sensores de temperatura, presença ou incêndio. Fontes de energia locais, como pequenos painéis fotovoltaicos, são outra opção bastante prática. É possível inclusive aproveitar o próprio funcionamento do dispositivo para a sua alimentação, como reciclando a energia mecânica resultante de uma botoeira ao ser pressionada. O resultado final é uma grande flexibilidade no que se refere ao fornecimento de energia para os dispositivos, simplificando sua instalação e permitindo seu posicionamento em locais sem acesso à rede elétrica.


2 – Quando a utilização de cabos é complicada ou dispendiosa

Equipamentos ZigBee são, na maioria dos casos, mais caros do que aqueles que possuem as mesmas funções e que utilizam cabos para a sua comunicação. Mas isso não significa que o custo total de um sistema cabeado seja necessariamente menor. Sistemas de automação predial, por exemplo, possuem grande número de dispositivos, frequentemente na casa de centenas ou mesmo milhares, espalhados por áreas extensas. Os custos com cabeamento nesses casos são bastante elevados, algumas vezes até superando as despesas com a compra dos equipamentos. E é necessário considerar ainda os gastos com eletrodutos, eletrocalhas, fixação e a mão de obra para a montagem de todo o conjunto.


Sendo ZigBee uma tecnologia wireless, boa parte das despesas com aquisição e instalação de cabos pode ser eliminada. A possibilidade de manter os dispositivos mais simples alimentados apenas por meio de baterias aumenta o potencial de economia, ainda mais que geralmente são esses os que aparecem em maior número em um sistema. É necessário considerar também as dificuldades práticas na instalação dos cabos. Problemas em encontrar passagem entre vigas, paredes e encanamentos são frequentes. Se o sistema for instalado em uma edificação mais antiga (em uma expansão ou retrofit), é provável que não exista espaço suficiente para novos cabos nas tubulações já existentes, ou espaço para novos eletrodutos. Mesmo em novas construções é comum encontrar espaços subdimensionados, sem suporte para instalação de novos equipamentos, ou que simplesmente não foram projetados para receber um sistema automatizado. Qualquer que seja o caso, o ZigBee é uma boa alternativa para simplificar o processo de instalação, reduzindo a interferência na estrutura da edificação e evitando a necessidade de deixar dutos ou cabos expostos.  

  
3 – Quando os equipamentos precisam estar em movimento

Alguns sistemas necessitam que seus dispositivos possam se movimentar dentro de uma determinada área. Um exemplo interessante de aplicação que necessita de sensores móveis é no monitoramento de pacientes em clínicas ou hospitais. Em uma versão bastante simples, esse monitoramento pode ser feito por um “botão de pânico”, um dispositivo com uma tecla que acompanha ao paciente e, ao ser pressionado, envia um sinal para solicitar socorro. Equipamentos mais sofisticados possuem acelerômetros que permitem a detecção de quedas, ou são capazes de monitorar variáveis como pressão sanguínea ou batimentos cardíacos. Qualquer que seja o caso, o dispositivo não interfere nos movimentos da pessoa, permitindo que ela se desloque livremente pelo ambiente, mas ao mesmo tempo possa ser imediatamente socorrida caso ocorra alguma emergência.

A principal característica do ZigBee que permite esse tipo de aplicação é a capacidade de autoajuste e autocorreção da rede. Isso significa que, caso um dispositivo perca sua conexão com a rede por um determinado percurso, automaticamente irá procurar por outro dispositivo próximo para retomar a conexão. Ao mesmo tempo, a própria rede irá se encarregar de atualizar suas tabelas de rota para comportar essa mudança de posição. O protocolo também fornece ferramentas que permitem identificar a localização física do equipamento ZigBee, inclusive permitindo a triangulação do sinal através dos níveis de potência recebidos. No entanto, não são todas as aplicações móveis que irão funcionar bem com o uso de ZigBee. Como a taxa de dados é baixa, a reconfiguração da rede não é instantânea, levando alguns segundos para ser concluída (o tempo depende muito do funcionamento de cada dispositivo). Sendo assim, é necessário garantir que a velocidade com que os sensores se movimentem seja compatível. A quantidade de informação transmitida também é importante, já que a rede não possui bom desempenho com grandes volumes de dados ou caso os períodos de atualização das variáveis sejam menores que 1 segundo.


4 – Quando os equipamentos ficam ao ar livre

Aplicações ao ar livre, como sistemas de irrigação ou monitoramento de lavouras, apresentam diversos empecilhos ao uso de cabos. Em primeiro lugar existe a questão das distâncias entre os equipamentos, que normalmente são grandes. Além disso, ambientes externos são menos controlados, deixando o cabeamento exposto a riscos de rompimento acidental com ferramentas de jardim, transito de veículos ou ataques de animais. Mesmo a vegetação pode se tornar um problema, rompendo cabos aéreos com os galhos ou fios subterrâneos com o crescimento de suas raízes. Os custos de um cabo destinado ao uso em um ambiente desse tipo também são mais elevados, devido à necessidade de resistir a variações mais intensas de temperatura, ressecamento pela luz solar ou infiltração de água.


O ZigBee é uma boa opção para reduzir essas despesas e incômodos em um ambiente externo. A alimentação exclusivamente por baterias, ou com alguma fonte local de energia, também é atraente, pois permite posicionar os equipamentos diretamente nos locais de interesse, sem preocupação com o percurso ou obstáculos. Outro característica de aplicações ZigBee em espaços ao ar livre é o considerável aumento do alcance do sinal em comparação com aplicações no interior de edificações. Isso se deve a menor concentração de paredes de alvenaria, estruturas metálicas e outros obstáculos a propagações na faixa de micro-ondas (na qual o ZigBee se enquadra). Esse fato acaba compensando o incremento das distâncias entre os pontos de instalação dos dispositivos, eliminando a necessidade de um grande número de repetidores.


5 – Quando a rede precisa ser flexível

A rede ZigBee é bastante flexível. No item anterior foi comentado sobre a sua capacidade de modificar rotas e corrigir falhas na comunicação. Outra característica é a facilidade com que novos dispositivos podem ser adicionados à rede. O processo de conexão com a rede, chamado comissionamento, geralmente se inicia automaticamente ao ligar o aparelho, ou através de algum outro procedimento simples, como o pressionar de um botão. O dispositivo executa uma varredura nos canais, mapeando todas as redes ativas na mesma área. Após isso começa a enviar solicitações de conexão para cada uma das redes encontradas. Caso a solicitação seja recebida por uma rede que esteja liberada para adição de novos dispositivos, o coordenador dessa rede irá responder autorizando a conexão. A partir da recepção da autorização o novo dispositivo passará a ser parte da rede ZigBee. Existem vários parâmetros e configurações envolvidas nesse processo, que podem ser modificados para atender requisitos específicos, mas, na maior parte das vezes, o procedimento não exige maiores intervenções ou supervisão.

A flexibilidade também se manifesta no fato de que uma mesma rede pode ser composta por diferentes tipos de dispositivos ou aplicações, sem limitações. Pode, por exemplo, haver um sistema de alarme de incêndio operando em uma mesma rede com controle de iluminação e temperatura. A rede será a mesma, aumentando o alcance da comunicação e as possibilidades de rota, ainda que cada grupo execute suas próprias funções de forma independente dos demais. De maneira semelhante, o fato de ser um protocolo aberto permite a comunicação entre diferentes fabricantes, sem problemas de compatibilidade. Como resultado, sistemas ZigBee funcionam muito bem em ambientes que necessitem de mudanças frequentes. Pode ser o caso de uma instalação temporária, como na automação de feiras e eventos. Outro caso é quando existe a necessidade de expandir a rede, adicionando novos sistemas ou dispositivos ao longo da vida útil da edificação. Mesmo a manutenção é simplificada, podendo um equipamento danificado ser substituído livremente por outro com a mesma função, sem preocupação com fabricante ou modelo. 

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