Mesmo que as lâmpadas modernas sejam consideravelmente mais eficientes do que as do passado, a iluminação ainda representa uma parcela importante do consumo de energia em uma edificação. Isso é especialmente verdadeiro nos ambientes de trabalho, onde os períodos prolongados de uso acabam gerando um consumo elevado, mesmo que o consumo individual de cada lâmpada seja relativamente baixo. É necessário, portanto, que a iluminação receba atenção no momento de aplicar estratégias para aumentar a eficiência energética. Mas também é necessária certa cautela, já que a iluminação é um componente fundamental no conforto e qualidade de um espaço construído. A permanência em um ambiente mal iluminado é desgastante e prejudica a realização das atividades. Pensando nisso, foram selecionadas três ideias de como a automação predial pode ajudar a reduzir o consumo de energia da iluminação, mas sem tornar o ambiente desconfortável.
1 – Ligando as lâmpadas nas horas certas:
Se um determinado local possui um perfil de uso com horários bem definidos isso pode ser usado para o controle da iluminação. Como exemplo pode-se imaginar uma sala em um escritório que possui uma rotina fixa, das 8h às 12h e das 13h às 18h. Várias pessoas utilizam esse ambiente, o que significa que, em condições normais, ele nunca será deixado vazio durante o período de trabalho. Também dificilmente alguém irá usar esse espaço durante o almoço ou fora do expediente. Nessas condições, o controle da iluminação pode ser feito com base no tempo, ligando automaticamente as luzes no início de cada turno e desligando ao final deles.
Para um melhor desempenho, o sistema pode ser combinado com sensores de presença, que passam a funcionar fora do período normal de trabalho. Ou seja, durante o expediente as lâmpadas são ligadas conforme a hora, e fora dele apenas se houver alguém presente na sala. Em uma estratégia mais avançada, os sensores de presença são utilizados para que o sistema de automação seja capaz de aprender os padrões de ocupação do ambiente. Dessa forma a programação horária funciona como uma referência que é ajustada de acordo com o comportamento real das pessoas. Essa estratégia mantém a eficiência ao mesmo tempo que permite que o sistema se adapte a rotinas de ocupação mais flexíveis.
2 – Coordenando com a iluminação natural:
Aproveitar a iluminação natural é uma forma bastante eficaz de economizar energia. Existem vantagens adicionais com relação a saúde dos ocupantes, aumentando o conforto visual, reduzindo a fadiga e auxiliando na regulação do relógio biológico (ciclo circadiano). Naturalmente que um bom aproveitamento da luz natural depende de um projeto arquitetônico devidamente pensado com esse fim. Mas mesmo nesses casos não é possível que a única fonte de iluminação do ambiente seja a externa. Em primeiro lugar porque a maioria das estratégias de iluminação natural (janelas, claraboias, etc.) não são capazes de produzir uma iluminação uniforme em todo ambiente. Em segundo, não é possível garantir que a quantidade de luz disponível seja sempre a ideal, uma vez que existem variações conforme o horário, clima e estações do ano.
Para obter uma iluminação uniforme, tanto com relação ao espaço físico do ambiente quanto ao longo do tempo, é necessário que a iluminação artificial seja capaz de acompanhar as variações da natural. Isso pode ser feito por meio de lâmpadas dimerizáveis e sensores, e no infográfico é possível visualizar melhor esse conceito. A quantidade de luz natural disponível é elevada próximo a janela e reduz de forma acentuada à medida que a distância em relação a esta aumenta (curva em verde). O sistema então ajusta a intensidade de cada lâmpada conforme necessário para complementar a iluminação natural (curva em amarelo) criando assim uma distribuição mais uniforme (vermelho), que se aproxima dos valores ideais (azul). Os sensores medem a iluminação da região abaixo deles e essa informação é usada para ajustar a intensidade das lâmpadas, de acordo com os níveis considerados adequados para o ambiente. Ou seja, se a quantidade de luz natural faz com que a iluminância do local exceda a programada, a potência da iluminação artificial é reduzida, e vice-versa.
A ideia nesse tipo de controle não é produzir uma iluminação perfeitamente uniforme, mas garantir que esta se mantenha dentro dos níveis adequados, conforme as atividades realizadas no local. Inclusive essa irregularidade, tanto no espaço quanto ao longo do tempo, é uma vantagem, pois fornece o dinamismo necessário para reduzir a fadiga visual. A redução no consumo é obtida pelo fato de que as lâmpadas permanecem o menor tempo possível ligadas na sua intensidade máxima. É uma estratégia extremamente eficiente pois aumenta o conforto dos espaços ao mesmo tempo que gera economia de energia.
3 – Ajustando a intensidade conforme a aplicação:
A intensidade da iluminação necessária em um ambiente depende das atividades que são realizadas nele. Tarefas que exijam precisão e atenção aos detalhes exigem quantidades maiores de luz do que tarefas mais simples ou menos visuais. Com bastante frequência, um mesmo espaço é utilizado para diferentes atividades ao longo do tempo, com diferentes exigências com relação à luminosidade. E isso pode ser aproveitado para gerar economia de energia, ajustando a intensidade da iluminação de acordo com as necessidades de cada situação.
Nesse tipo de aplicação, o projeto luminotécnico precisa ser pensando considerando o pior caso, ou seja, a atividade realizada no local que possua maior exigência visual e, portanto, maior intensidade luminosa. Todas as demais atividades podem ser realizadas com níveis mais reduzidos de luminosidade. Um exemplo bastante simples desse tipo de estratégia é a ocupação do ambiente em dois momentos, sendo um correspondente ao expediente de trabalho normal e outro de manutenção e limpeza. Durante o expediente as exigências de luminosidade são as máximas para qual o ambiente foi projetado, porém as atividades de manutenção e limpeza possuem requisitos visuais geralmente menores, o que permite reduzir a potência das lâmpadas. A partir dessa ideia é possível trabalhar com situações mais complexas, como ambientes com múltiplas aplicações, ou mesmo realizando ajustes setoriais dentro do mesmo espaço. É uma estratégia de iluminação que combina a redução do consumo de energia com flexibilidade de uso por parte dos ocupantes.
Combinando as estratégias:
Conforme já pode ser observado, as estratégias de automação apresentadas não são modelos fechados, mas comportam grande flexibilidade. As características dos equipamentos utilizados, quantidade de sensores, distribuição das lâmpadas, etc. permitem a criação de diferentes lógicas de controle. É possível ainda combinar as estratégias apresentadas, criando projetos mais complexos, versáteis e eficientes. Qualquer que seja a estratégia adotada, ela precisa estar sempre focada na finalidade de uso do espaço. Quando isso é respeitado, a mesma ação que reduz o consumo de energia também incrementa a qualidade do ambiente. E é isso que faz com que a automação da iluminação seja verdadeiramente eficiente.
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